PEDRO MATIAS: O Gabinete do Reich

Por Sem Comentarios
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"Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade." Joseph Goebbels
Você, caro leitor (a), pode estranhar essa aparição repentina em um dia atípico, naturalmente esse seria o caminho, já que nossa conversa ocorre nas terças, semanalmente. Porém, vi a necessidade de estabelecer esse diálogo hoje, depois de refletir sobre o assunto trazido à baila. Iniciei este escrito com uma frase muito difundida e conhecida, "uma mentira contada mil vezes torna-se verdade". Esta frase é de Joseph Goebbels, o Ministro da Propaganda da Alemanha Nazista e sucessor de Hitler logo após seu suicídio.

Goebbels foi responsável por toda a máquina de comunicação da Alemanha Nazista. O Ministério da Propaganda atuava para promover toda a reestruturação cultural imposta pelo Reich, cuidar da imprensa, música, teatro e rede de rádios do Estado. Era função de Goebbels também administrar a distorção de informações transmitidas pelo Governo ao povo alemão, bem como criar inimigos imaginários do Estado - como os judeus, comunistas, ciganos, homossexuais e todos àqueles considerados subversivos -, por exemplo, foi através do Ministério da Propaganda que Hitler convenceu o povo da Alemanha a apoiar sua fracassada invasão à União Soviética.

No Ministério de Goebbels se encontrava uma verdadeira máquina de distribuição de dados - em ampla maioria falsos -, um dos pilares fundamentais do Reich. Estou trazendo essas informações para você, caro leitor (a), pois considero essencial para a elucidação do que o Brasil está vivendo.

Em março de 2019, o Ministro Dias Toffoli, Presidente do Supremo Tribunal Federal, instaurou de ofício (ou seja, sem haver provocação da Procuradoria Geral da República) um inquérito a fim de investigar a máquina de notícias falsas que está em funcionamento no país, e que ameaça a segurança e a honra da Suprema Corte e de seus Ministros (as).

No dia 27 de maio de 2020, o Ministro Alexandre de Morais – relator do inquérito das fake news no STF - autorizou a deflagração de uma Operação com 29 mandados de busca e apreensão como parte do inquérito, tendo como afetados diretos deputados e deputadas bolsonaristas, empresários (responsáveis pelo financiamento do esquema) como Luciano Hang e Edgard Corona, dono das Lojas Havan e da SmartFit, respectivamente, além de blogueiros que trabalham para as milícias digitais do Presidente Jair Bolsonaro.

A Operação atingiu a estrutura central do chamado "Gabinete do Ódio", um setor no terceiro andar do Palácio do Planalto que funciona com a mesma finalidade do Ministério da Propaganda Nazista: disseminar notícias falsas (fake news), criar inimigos imaginários como os membros da oposição, e difamar personalidades diversas como Ministros do STF e agentes políticos diversos no cenário nacional.

O Gabinete do Ódio é um verdadeiro centro de operações estruturadas, que dominam a internet e se ramificam com filiais nos estados da federação, a fim de atacar todos os potenciais opositores do governo, é um linchamento digital. Os mesmos atores desse capítulo da vida política nacional, sãos os mesmos que financiavam a rede de disparos via WhatsApp de noticias falsas que atuaram nas eleições de 2018, atacando o ex-candidato a Presidente, Fernando Haddad, com fake news como o famoso “kit gay”, e entre outras tão baixas que é vergonhoso expor até com palavras escritas. 

Após o término da Operação vieram às acusações de ilegalidades e ameaças ao STF – costumeiramente -, mas esquecem que apesar do Supremo não ter sido provocado, o Ministro Dias Toffoli agiu dentro da legitimidade regimental que garante a defesa da ordem interna da Corte. Este inquérito tem servido, inclusive, para expor ao país que as denuncias feitas pelo ex-candidato a Presidente, Fernando Haddad, no decurso das eleições de 2018 são verdadeiras.

As milícias digitais falam também em ataques à liberdade de expressão, não passando de mais uma tentativa deliberada de distorcer a realidade dos fatos. Os atos perpetrados pela trupe do Governo Bolsonaro são atos criminosos, que atacam a honra das pessoas, ameaçam a democracia e estão em uma posição de contrariedade ao que preceitua os fundamentos do Estado de Direito.

As ações orquestradas pelo Gabinete do Ódio estão interligadas de maneira umbilical com o esquema de manipulação da opinião pública por meio de informações fraudulentas. É importante relembrar que esta estratégia já foi usada não apenas no Brasil. No processo do plebiscito do Brexit, em 2016, que aprovou a saída do Reino Unido do bloco da União Européia, uma máquina de fake news e manipulação através de metadados adquiridos no Facebook (ilegalmente) também funcionou, tudo por conta da empresa de análise de dados, Cambridge Analytica, que atuando também em 2017 na campanha vitoriosa de Donald Trump à presidência dos EUA.

A estratégia nazista de supressão da verdade está sistematicamente ligada a Governos com viés autoritário como o de Jair Bolsonaro. É inconcebível que a sociedade assista passivamente o desmonte de garantias constitucionais e democráticas. Mais do que nunca existe a necessidade de fortalecer as instituições no combate ao esquema liderado pelo Gabinete do Ódio, inclusive cobrar a devida apuração por parte do Tribunal Superior Eleitoral, através dos dados coletados pelo inquérito do Supremo, da flagrante possibilidade de manipulação eleitoral nas eleições 2018.

Na era digital, um dos grandes desafios que enfrentamos é proteger a democracia contra a distribuição de noticias que manipulem a forma como a população se posiciona, evidentemente, garantindo a liberdade de expressão e de imprensa, não podendo estas ser maculadas por criminosos.



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