LUCAS CARLOS: Aculturalização digital em tempos de isolamento social

Por Sem Comentarios
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Iniciar uma discussão sobre cultura na contemporaneidade é atirar contra uma parede de concreto densa e que está a cada dia mais difícil de ser rompida. Essa ainda formada por um hibridismo cultural.

Diante ao isolamento social causado pela Pandemia por COVID-19, acompanhamos um domínio ainda mais forte das redes digitais, e ferramentas do cyber espaço que predomina e muda o comportamento social.

Esse encontro entre a cultura material e imaterial é transformada em dados – algoritmos – que “acultura” o nosso comportamento pessoal e nossas relações sociais.

Percebemos essa transformação, seja nas Live musicais para entreter as pessoas ou nas webs conferências paras reuniões ou aulas EAD que tem como objetivos suprir nossas relações antes tidas no nosso cotidiano.

A cultura ela é essencial para os seres humanos desde os primórdios, e durante o isolamento social, essa necessidade se faz ainda mais presente. Podemos enxergar vários pontos que gera diversas discussões com esse apontamento, mas os principais são; uma crítica para a relação de trabalho na sociedade brasileira, que tem nos afastado dessa relação fundamental para nossa vida. E nesse atual momento, uma crítica ao que se pode entender como cultura, e o que estamos de fato consumindo como cultura.

O Brasil mesmo sendo muito rico em cultura, ele vive em uma guerra pelo domínio cultural, havendo no tempo histórico vários processos de aculturalização, os principais dentre eles, estão pela influência eurocêntrica até meados do século XX, ou pela aculturalização devido a globalização, no Brasil, o domínio dos EUA. Essas que foram escolhidas pela elite brasileira para constituir sua identidade nacional. Enquanto isso, às culturas nativas ou de afro descendência, estavam sendo supridas e encaminhada a extinção.

Agora, estamos acompanhando o domínio da cultura digital que faz parte de uma continuidade da globalização, que já tinha transformado a cultura em indústria. Isso já era previsto por Theodor Adorno (filósofo alemão) no século passado. O que não era previsto era a ‘digitalização cultural’, seja da arte, da música, da moda e até dos alimentos.

O problema não está nas Live, nas aulas EAD, nos Museus que digitalizaram seu ambiente, no serviço delivery. Neste momento, esses dispositivos se fazem necessários para suprir nossas necessidades. Mas como em toda Pandemia, que é comum também em toda Guerra, quando a economia, a saúde, educação e outras coisas que fazem parte da nossa relação social e de consumo, é atingida, se faz necessário encontrar alternativas para suprir nossas necessidades. E em todas novas alternativas, logo se surgem inovações. Essas tecnológicas que adentra toda esfera social e cultural. Mas o que se pode mais inovar em uma era já tecnológica; que permite você está vendo seu cantor preferido ao vivo no sofá da sua casa, bebendo e comendo por um serviço entregue em sua casa, ou no mais tardar, fazer o seu trabalho do escritório em casa, e em outro horário, assistir a aula da universidade. Exatamente o fim das relações sociais íntimas e culturais, por uma aculturalização mercadológica e de interesse econômico e político dos grupos dominantes.

Aculturaliza em nossos costumes uma nova forma de relaciona-se, que poderá muito bem ser adotada em pouco tempo. Esse tipo de domínio digital extinguirá a cultura como arte, a música, moda, danças, cinema – Essas já dominadas por indústrias que pouco se importam com o conteúdo – E outros costumes das relações regionais. O que importa na política neoliberal é a lucratividade. Se naturalizarmos essa relação que estamos tendo durante o isolamento social, para que faça parte do nosso cotidiano, não perdemos só a cultura, teremos uma drástica mudança também nas relações de trabalho, da saúde e da educação.

Se torna engraçado lembrar da fala da secretaria da cultura – Regina Duarte, ao comentar que o “pum do palhaço, também é cultura”. É cômico, mas não deve ser ignorado, mas sim ser observado com um olhar crítico e perceber que diante a cultura mercadológica e dessas indústrias que tornam tudo possível e aceitável, seja músicas misóginas que se tornam o som do momento, ou do apropriamento cultural que escolhe qual estética negra é aceitável. Esse discurso como da Regina, não é impossível e nessa distópica realidade que o Brasil adentrou, o “Pum do Palhaço”, pode se torna cultura para alguns. O consumismo vendido como cultura, apaga a essência e a aura das artes, e a transforma em simples objetos que serão logo descartados.

A cultura não é benéfica, ela tem seus lados, seu poder de normalizar o que não é normal ou o que de fato não faz bem. Mais isso é uma tomada autoritária da cultura pela classe dominante que manifesta seus desejos e vontades sobre os dominados.

Atualmente, nesse exato momento, nossas informações que foram acessadas pelas nossas navegações na WEB, nossos dados, são hoje o produto mais caro do mercado, e neste momento, empresas estão em grandes negociações por esses dados, e para quem assistiu Black Mirror (série britânica, que trata sobre contos de ficção cientifica, mostrando um domínio tecnológico e seus benefícios e males) não estamos muito distante do que a serie apresenta.

O domínio das redes digitais em nossas relações sociais, já vem acontecendo, caberá a nós estarmos cientes e bem acordados para que ela não seja um dispositivo de controle social e dos nossos corpos, pois se não, além da frieza e da perca da essência cultura que teremos, nos tornaremos reféns desses vícios, que poderá não nos mata, mas que nos aprisionará, não será em uma penitenciaria, mas em nossos lares, presos enquanto consumimos e geramos lucros. E a cultura? Essa poderá se tornar apenas uma palavra perdida no tempo, enquanto nós consumiremos dados e objetos sem áurea e essência que serão vendidos em lojas online como nossa cultura predominante.
 

LUCAS CARLOS
GRADUANDO EM HISTÓRIA PELA UEPB, CAMPUS III
SESSÃO OPINIÃO - PORTAL OLHE




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