COLUNA PEDRO: Um Biden “À La Brasil”

Por Sem Comentarios
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 A vida de todo ser humano é feita de episódios cheios de reticências, o tempo que passei “sumido” deste espaço de diálogo que inaugurei com vocês em meados de 2020, simboliza um momento de reticências na caminhada de quem vos escreve, mas é óbvio, como já dizia o poeta que “o tempo não para” e de fato, não parou, apesar do meu sumiço.

A prova que o tempo não para é tão forte, que em novembro do ano passado ocorreram mudanças significativas não só na conjuntura política do país, a partir das eleições 2020, como também dentro da correlação de forças da geopolítica, evidenciada pela eleição do Presidente dos EUA, Joe Biden, que derrotou Donald Trump, sustentáculo da extrema-direita internacional e principal figura de inspiração de Jair Bolsonaro.

Debruço-me sobre este escrito, me despindo de quaisquer inclinações partidárias ao iniciar a análise que lerão doravante, faço isso crendo que leitura política deve ser feita com base na realidade, de forma pragmática. Aplicar utopias, sonhos e filosofias de vida na hora de analisar o cenário político pode ser um dos maiores erros que personalidades públicas e dirigentes partidários podem cometer, e a “realpolitik” é implacável em derrubar sonhadores de cima dos seus cavalos.

O povo brasileiro mandou um recado bem claro ao sair às ruas no meio da pandemia por covid-19 para votar nas eleições de 2020. Passarei a citar alguns exemplos que refletem a inclinação do eleitorado, mas antes, cabe registrar que aquele eleitorado que saiu para votar em 2018 e optou pela candidatura de Jair Bolsonaro buscando a chamada “mudança”, aparentemente, desistiu de legitimar candidaturas aventureiras e sem responsabilidade programática, digo isso com base nos resultados pífios de candidatos alinhados ao Presidente da República, como são os casos de Celso Russomano na cidade de São Paulo e Marcelo Crivella, no Rio de Janeiro. 

Outro fato importante é que a estratégica tática eleitoral adotada pelo Partido dos Trabalhadores, maior partido de esquerda e de oposição do país, não foi uma das melhores, além de amargar uma queda no número de prefeituras em comparação com as eleições de 2016, o PT saiu isolado das eleições de 2020 por ter disputado em cidades estratégicas como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife, com poucas (limitadas a partidos de esquerda como PCdoB e PSOL) ou quase nenhuma aliança. 

Não sou do tipo que considera o bolsonarismo e o lulopetismo como dois extremos, e essa é a maneira que a grande mídia costuma comparar, primeiro porquê o PT nasceu das lutas pela redemocratização e governou o país respeitando as regras do jogo, inclusive sendo mais republicano que qualquer outro governo desde a redemocratização, e segundo, as práticas e o modus operandi de corrosão das instituições que é perpetrado pelo bolsonarismo já é claro e evidente para quem minimamente se põe a observar o cenário político brasileiro. 

Porém, é importante registrar que as eleições de 2020 foram marcadas pela derrota do bolsonarismo e por mais um desempenho fraco do PT em termos de tática eleitoral, não por serem forças iguais em dois extremos diferentes, mas pelo fato do PT ter escolhido o isolamento político ao adotar a estratégia usada em 2020. Quem quer voltar a governar o Brasil não pode dialogar apenas com 1/4 da população, isso é insuficiente. 

E foi dentro desse cenário que emergiram e se fortaleceram candidaturas da centro-esquerda à centro-direita, com políticos de perfil experiente como podemos destacar ex-prefeitos que novamente se elegeram, a exemplo de Eduardo Paes (DEM), no Rio de Janeiro e Edmilson Rodrigues (PSOL), em Belém do Pará, que adotou um perfil moderado. Bruno Covas (PSDB), prefeito de São Paulo, que herdou a tradição social-democrata de Mario Covas e uniu à experiência de administrar a maior cidade do país em meio a uma pandemia obteve êxito no projeto de reeleição, assim como Edvaldo Nogueira (PDT), que foi reeleito prefeito de Aracajú (SE).

Paralelo ao processo eleitoral brasileiro estava ocorrendo a disputa eleitoral dos EUA, que terminou com a derrota de Donald Trump para Joe Biden, ex-vice-presidente dos EUA no Governo Obama, um político experiente, com quase 80 anos de idade e que possuía um perfil centrista e moderado, características consideradas essenciais para derrotar a extrema-direita dos EUA. Pois é, a aposta deu certo.  

Após o término do processo eleitoral dos EUA e as grandes surpresas que as urnas no Brasil nos trouxe, muito se falou sobre a necessidade de se forjar um Biden “à la Brasil” para derrotar Bolsonaro em 2022 - a questão é que não se constrói candidatura de maneira artificial. Quem tentou fazer isso se deu mal e não chegou onde queria. Mas uma importante mudança despontou no cenário eleitoral com o retorno dos direitos políticos do ex-presidente Lula, que, ao fazer um pronunciamento ao país no último dia 10 de março, embaralhou o tabuleiro político brasileiro. 

Lula além de adotar um perfil moderado, diferente da postura mais radical que externou ao ser solto em novembro de 2019, obvio, com toda razão, o ex-presidente acenou para amplos setores da sociedade, inclusive o empresariado, o mercado e as forças armadas, fazendo com quê expoentes de vários partidos (da esquerda à direita) fizessem coro ao seu discurso, a exemplo de Rodrigo Maia (MDB), Gilberto Kassab (PSD), Flávio Dino (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL). 

O fato é que Lula encarna uma posição centrista quando modera o tom do seu discurso e abre o arco de alianças repetindo o que fez em 2002, momento em que se elegeu pela primeira vez, com essa jogada, ele estraçalha as candidaturas de centro e inviabiliza pretensos candidatos à esquerda. Na prática, aquele Biden “à la Brasil” que amplos setores da mídia tentaram criar, está nascendo na candidatura de Lula para Presidência da Republica em 2022.

Não se surpreendam se no apagar das luzes em 2022 nascer um palanque com Lula Presidente acompanhado do MDB, PSDB e partidos de esquerda e centro.




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